Estava ali, no meu canto, achando que sabia o que era a vida, enfiada no meu trabalho e na minha rotina, não muito consciente de que afundava em uma suposta zona de conforto, ou de que andava em areia movediça, em meados de 2016, quando, em meio a um processo de mentoring (em que eu era a mentoranda), a mentora recomendou a leitura do livro “The Confidence Code”, de Katty Kay e Claire Shipman. A partir desta leitura, muitas fichas começaram a cair. O cerne da obra é sobre a (falta de) autoconfiança nas mulheres. Obviamente, isso tudo toca em temas como machismo, patriarcado, história, submissão, empoderamento, etc. Foi um divisor de águas para mim, pois a partir dali, despertei para um novo olhar. O meu olhar de mulher sobre a mulher, sobre mim, sobre as mulheres que admiro, sobre o fato de que, no fundo, sempre soube que havia algo que eu precisava desvendar, decifrar, para me entender e entender o mundo ao meu redor. Foi assim que saí da superficialidade e deixei de me calar. Percebi que já tinha alguns conceitos dentro de mim, muito pela educação que recebi e porque fui introduzida à leitura de autoras femininas (e, hoje sei, feministas) muito cedo. O que me acordou foi o fato de que o que eu sabia era a ponta do iceberg. E fui adiante. E continuo seguindo. Não há um ponto de parada. Ao contrário, há sempre um novo ponto de partida. E hoje eu vim dividir um pouco disso sob o olhar meu, com base em minhas experiências e leituras.
Conceito
Feminismo é um movimento social que busca a igualdade de status social, jurídico, político e econômico entre os gêneros.
Patriarcado
Sexo + classe + raça = ligados entre si para determinar a questão do patriarcado como dominação do homem branco heterossexual,
Homens devem primeiramente discutir a masculinidade tóxica e os efeitos nocivos do Patriarcado para então olhar para a igualdade de direitos entre gêneros e poder apoiar o feminismo. Um legislador, um professor, um escritor podem apoiar através de ações inclusivas e questionadoras. O que não dá é para ter um “macho palestrinha” pautando a luta e o movimento feminista como algo seu.
Movimento Feminista no Brasil
Trës ondas, sendo a primeira no final do século XIX e início do século XX, a segunda entre 1960 e a terceira a partir de 1990.
A primeira se caracterizou por lutar pelo direito ao voto e direitos trabalhistas. A segunda por lutar por liberdade sexual, papel social da maternidade e igualdade de direitos. E, por fim, a terceira busca a liberdade total. Dentro deste movimento da terceira onda, há o feminismo interseccional, que agrega os diferentes direitos das mulheres (brancas, negras, indígenas…)
Os Direitos da Mulher no Brasil
Código Civil de 1916 – mulher era considerada incapaz.
1932 – 1934 – Direito ao voto
1962 – Estatuto da Mulher Casada
1977 – Lei do Divórcio
1988 – Constituição Federal estabelece a igualdade entre todos
2006 – Lei Maria da Penha
2015 – Lei que estabelece o Feminicídiocomo crime hediondo.
Provocação – adotar o sobrenome do marido é uma herança de nossa cultura patriarcal, um ato romântico ou uma liberdade? A partir de que perspectiva? Da mulher instruída ou da mulher submissa? Há pesquisas que indicam que quanto maior o grau de instrução da mulher, menos importância tem para ela adotar o sobrenome do marido (fica com seu nome). Para se pensar – e não julgar, afinal é uma realidade muito forte no Brasil ainda.
Violência contra a mulher e Feminícídio
Políticas públicas
Saúde Mental
Assistência e Proteção
O ciclo vicioso da relação de dominação
O silêncio que mata
A cultura machista faz com que a mulher se sinta responsável e culpada
O papel da família
A educação de crianças
Feminicídio é o termo usado para denominar assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero. Ou seja, quando a vítima é morta por ser mulher. No Brasil, a Lei do Feminicídio, de 2015, estabelece que, quando o homicídio é cometido contra uma mulher, a pena é maior. É um crime de ódio.
Comportamentos machistas
Mansplaining
Manterrupting
Gaslighting: Bárbara Zorrilla é psicóloga especializada em atendimento a mulheres vítimas de violência de gênero. “O abuso gaslighting é uma forma de violência muito perversa, porque é contínua e se consegue mediante o exercício de um assédio constante, mas sutil e indireto, repetitivo, que vai gerando dúvidas e confusão na mulher que o sofre, a ponto de chegar a se sentir culpada das condutas de violência do abusador e duvidar de tudo que acontece à sua volta.”
Falar que está de TPM! (reduz a mulher a hormônios)
Perguntar sobre maternidade como forma de julgamento e exclusão
Parem de dar chocolate no dia da Mulher… mudem a atitude, apoiem, estudem, entendam
Chamar de Feminazi
Fazer piadas machistas
Falar que é coisa de mulherzinha
Não dividir as tarefas domésticas
Exemplos de práticas machistas no mundo corporativo
Salários desiguais
Não ter mulheres na alta liderança
Encorajar piadas machistas
Colocar mulheres em situações constrangedoras
Não ter uma cultura de inclusão e diversidade
Sororidade
Não somos todas iguais e não conseguimos entender a realidade de todas e por este motivo temos que escutar e apoiar. Um dos grandes erros é afirmar que o movimento feminista é único e une todas as mulheres, indiscriminadamente. As lutas podem ter muito em comum, um ponto de intersecção sem dúvida, mas existem diferentes reinvindicações de mulheres negras em comparação a mulheres brancas, assim como mulheres indígenas, nordestinas, asiáticas, LGBT, e assim por diante. O mais importante, a meu ver, é sermos interseccionais e aprendermos umas com as outras, sempre dando espaço para o diálogo e dando lugar para todas. Um exemplo disso é uma mulher branca ceder seu espaço em sua página na mídia social, por exemplo, para que uma mulher negra ou indígena fale sobre sua realidade. Isso é um exemplo real de sororidade.
Mitos/Preconceitos
– Feministas odeiam homens
– Feminismo é o contrário de machismo
– Todas as feministas são iguais
– Feministas são radicais
– Feministas não podem se casar
– Feministas são raivosas
– A mulher tem que ser masculina para chegar ao poder
Livros:
“A Mãe de todas as perguntas”(The Mother of All Questions), Rebecca Solnit
“Os Homens Explicam tudo para mim” (Men Explain Things to Me), Rebecca Solnit
Quer começar?
Ruth Manus – “Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas”
Chimamanda Ngozi Adiche – “Sejamos Todos Feministas”
“Life Lessons from Remarkable Women” (Coletânea da Revista Stylis)
Poemas – Empoderamento
“Outros Jeitos de Usar a Boca” – Rupi Kaur
“A Princesa Salva a Si Mesma Neste Livro” – Amanda Lovelace
“A Bruxa Não Vai para a Fogueira Neste Livro”- Amanda Lovelace
“The Mermaid’s Voice Return in This One” – Amanda Lovelace
Algumas obras consideradas obrigatórias sobre o feminismo (ainda não as li)
“O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir – considerado como a Bíblia Feminista
“Mulheres e poder: um manifesto”, de Mary Beard
“As boas mulheres da China”, de Xinran
“Um teto todo seu (1929)”, de Virginia Woolf
“Sister outsider (1984)”, de Audre Lorde
“O feminismo é para todo mundo (2000)”, de bell hooks
“Persépolis (2004)”, de Marjane Satrapi
“Reivindicação dos direitos da mulher”, de Mary Wollstonecraft
Autoras Feministas (seja pelo que escreveram ou pelo modo de vida ou porque assim se posicionam)
Jane Austen
Simone de Beauvoir
Virginia Woolf
Mary Wollstonecraft
Margaret Atwood
Bell Hooks
Rebecca Solnit
Audre Lorde
Sueli Carneiro
Irmãs Brontë
Gioconda Belli
Angela Carter
Isabell Allende
Sylvia Plath
Clarice Lispector
Lygia Fagundes Telles
Laura Esquivel
Chimamanda Ngozi Adiche
Djamila Ribeiro
Maya Angelou
Angela Davis
Nélida Piñon
Isak Dinesen
Conceição Evaristo
Mary Beard
Xinran
Angélica Freitas
Marilena Chauí
Arundhati Roy
Marjane Satrapi
Ana Maria Gonçalves
Carolina Maria de Jesus
Svetlana Aleksiévitch
Toni Morrison
Cecilia Meirelles
Hilda Hist
Heleieth Saffioti
Joan Scott
NÍSIA FLORESTA (1810-1885) Considerada a primeira feminista brasileira, publicou em 1832 o manifesto “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”. Também educadora e presença constante em periódicos da imprensa até então jovem, Nísia Floresta rompeu os limites entre o público e o privado que eram impostos às mulheres. Ela viajou pelo mundo, criando contatos e diálogos com Augusto Comte, pai do positivismo, e Alexandre Dumas, importante escritor francês.
Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não somos próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens. (…) Por que [os homens] se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como eles, senão pelo temor de que partilhemos com eles, ou mesmo os excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham?
NARCISA AMÁLIA (1852-1924) Além de poeta, Narcisa Amália foi a primeira jornalista profissional do Brasil. Feminista e abolicionista, lutava contra as opressões de gênero e de raça nos seus textos. Foi, de acordo com Sílvia Paixão, “um dos raros nomes femininos que falam de identidade nacional”, contribuindo imensamente para a formação da nossa literatura “numa poética uterina que imprime o retorno ao lugar de origem”.
PAGU (PATRÍCIA GALVÃO) (1910-1962) Sempre relacionada a Oswald de Andrade e condenada ao título de musa, Pagu foi muito mais do que companheira do escritor. Poeta, escritora, tradutora, desenhista, diretora de teatro, jornalista e militante, Patrícia Galvão lutou pela participação política da mulher na sociedade brasileira e foi figura essencial no movimento modernista. Publicou seu primeiro romance, Parque Industrial, em 1933. Primeira mulher a se tornar presa política no país, foi torturada durante muitos períodos em sua vida.
Bacana de mais fazer uma submersão nas suas ideas, compartilhar as transformações e o despertar da consciência (recíproco). Saiba que vc está na minha lista de mulheres fortes e fonte de inspiração!!
Quando li no seu artigo “acrescentar o nome do homem” uma atitude de romance ou exibição,eu caí numa gargalhada gostosa…nada como a boa e própria experiência, né?! Posso dizer que é uma mistura, mas tem mais do segundo ponto. Não devido à falta de conhecimento técnico, eu diria, mas devido à falta de conhecimento talvez das nossas próprias forças e capacidadades. Aquela força interior necessária para se impor uma mudança, independentemente dos comentários que adviriam dali. Aquela força pra quebrar a carga patriarcal que vem de lá longe, sabe?
Mas, não existe coisa mais gratificante que passar, viver, aprender e se transformar junto de pessoas incríveis e em constante processo de transformação!
Love u ❤
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